"Demagogia (Feita à Maneira) é Como Queijo (Numa Ratoeira)"
| Quase me sinto mal por desabafar isto aqui, dado o momento - incontornavelmente - especial da nossa história, que vivemos. Garanto que já fui mais patriota que sou. Garanto que já tive mais esperança; nas pessoas, nas coisas, nos rumos. Quando era jovem e imberbe ainda pensei enveredar pelas políticas, mas logo à partida percebi que não teria estômago para a tal actividade.
A política, (não só em Portugal, mas é com essa realidade que temos mais directamente de viver) é um associativismo interesseiro e egoísta. O Princípio de Peter funcionará quase desde a base quanto à capacidade do agente em pôr de parte os seus escrúpulos. Comigo não resultou, não resultaria, e o sonho esboroou-se quando me apercebi que a estrutura de cúpula se interessou por mim não pelos alegados mérito e tenacidade com que apareci em público, mas pela quantidade de votos que já levava atrás de mim e que poderia continuar a levar. Abandonei. E com esse abandono, veio o desinteresse pelos meandros da política em geral. Desde logo por entender que se torna tão difícil saber onde está a verdade que se revela inglória a exaustão de tentar descobri-la. Em segundo lugar, porque nas raras ocasiões em que consigamos perceber como as coisas se passam, o espectáculo será demasiado horroroso. E o mais pernicioso nisto tudo é que a política deveria ser - por essência é - a organização e condução dos nossos destinos comuns, da nossa vida em sociedade. A divisão de tarefas em prol de um bem-estar geral. Mas há muitas coisas a emperrar o bem-estar geral. Para o atingir é necessária abnegação, competência, virtuosismo, honestidade. Tudo coisas muito chatas e trabalhosas. Acaba por ser mais fácil e rentável meter a unha... e daí a realidade.
Já tenho vindo aqui espetar a minha farpa no Estado (naturalmente ironizando), e é claro que aí acabo por de alguma forma atingir os seus elementos: as instituições, os órgãos, as pessoas titulares desses órgãos. O órgão de soberania dito executivo é, por excelência, o alvo-maior destes e outros desabafos. Compreende-se. E é merecido. Mas hoje vim aqui chorar outra coisa. Já que o leitor chegou até aqui, mais vale ler até ao fim. Acabámos por nos afrouxar um pouco na nossa atitude de cidadãos no que se refere à titularidade da soberania nacional. A Constituição da República Portuguesa claramente sublinha. «A soberania, una e indivisível, reside no povo, que a exerce segundo as formas previstas na Constituição.» (art.º 3.º, n.º 1 CRP). Mas que tipo de soberania poderá este povo exercer com cúpulas organizativas tão miseráveis quanto as que temos? O povo, ao que creio, tem preferido encolher os ombros ou meter a unha no seu próprio feudozinho imitando os grandes já que a alternativa seria fazer estalar uma revolução, jorrar mais sangue, e eventualmente ficar tudo pior do que antes.
Peço perdão, estou a perder-me. O que queria desabafar com quem me lê é esta infindável tristeza de observar que a nossa classe política de cada vez se refina mais no seu egoísmo. E, se era certo que os detentores do poder em cada altura têm vindo a assumir mais ou menos abertamente o papel de carrascos dos nossos esforços, agora, nestes tempos mais recentes, que correm, parece ter ocorrido o fenómeno que anuncia a decadência final: até a oposição prima pela demagogia pura e dura, com o objectivo de picar pedra, esmagar, a todo o custo. Não se pense que estou a dirigir as minhas ideias a certas cores. Rosas, Laranjas, Azuis, Vermelhos, são todos a mesma miséria. Talvez o cheiro seja um nadinha diferente, duns para os outros... A questão é que me sinto totalmente livre para poder falar disto. Sou apartidário convicto, praticante, quase militante. E chorei quando me habituei à ideia de que os detentores do poder querem eternizar-se nesse bendito poleiro. Mas umas encolhidelas de ombros depois, já quase não me doía tanto. Agora choro porque também aqueles que desejam o poder mas não o detêm, que supostamente seriam a única esperança dos verdadeiros titulares da soberania (popular), a Oposição, perdeu a vergonha de vez e decidiu enxovalhar-nos na única réstia de dignidade comunitária que nos restava, roubando-nos qualquer eventual centelha de esperança.

A oposição, ao querer forçar o Presidente da República a convocar eleições antecipadas, esfrega as mãos de contente sem sequer sentir a gravidade do seu acto. É um rebaixar da Nação em todas as frentes: esvaziando o papel do Chefe de Estado e passando o derradeiro atestado de imbecilidade à população que ainda poderia acreditar que se fosse a presente oposição a governar as coisas seriam diferentes para melhor. Bom... e seriam, certamente... melhor para eles... E o que me constrange mais é a linha "argumentativa" (aqui as aspas são essenciais, puah!) que já ouvi usar. Se o Primeiro Ministro apresenta a sua proposta de exoneração ao Presidente da República, não há que nomear outro do mesmo partido mas acelerar esta legislatura? ...porque as Eleições Europeias inverteram os resultados das legislativas? E continuo a perguntar! Então mas o povo não votou em quem quis? O povo não sabe o que é votar para a Assembleia da República (com a consequente nomeação do Primeiro Ministro e do Governo) e confunde tal acto com a eleição para Estrasburgo? O povo é assim tão ignorante? Ou então agora, que convém, uma urna é uma urna e esses pormenores são indiferentes? Acaso haverá alguém a defender que deveriam rearrumar-se neste momento as cores dos assentos parlamentares atendendo aos mais recentes resultados eleitorais? E do Governo, já agora, ainda que o PM não fosse (ou não vá, enfim) presidir a Comissão Europeia? Ou a falta de vergonha é tanta que nada disto interessa, pois que o que interessa é que os ventos estão favoráveis para os pretendentes ao poleiro lá chegarem? Ou também não interessa que alguns dos que agora bradam terem executado uma manobra ao menos equivalente quando um presidente de câmara deu o lugar ao seu número dois para assumir uma candidatura à presidência da república - sem perguntar nada às instituições democráticas, claro -, de forma ligeira e descarada? Areia para os olhos? Mais? Mas ainda há alguém que não tenha esgotado a paciência??
plantado por Badalo @ 21:15 |
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Eu Paguei
| "Vamos Ganhar o Campeonato da Hospitalidade", uma brochura do Governo Civil de Lisboa.
Lithuânia? Em que língua está escrito? E coitadas das Ilhas Faroé! Só fizeram um jogo (J)!? E o que poderá explicar a Alemanha, apurada, ter conseguido oito vitórias (V) sem marcar qualquer golo (GM)?! Ah! Já sei! Deve ser uma espécie de passatempo, a boa disposição a incitar à hospitalidade. "Olhe bem para esta tabela. Aparentemente está correcta, mas não está! Descubra você mesmo qual a ordem certa das colunas"...
plantado por Badalo @ 09:00 |
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Census da Semana
| Não foi fácil, mas lutámos com denodo até que Leonardo - ele mesmo! - nos recebesse! Dissemos-lhe que se tratava de um anseio profundo da maioria do nosso público votante conhecê-lo melhor, à falta da possibilidade de passar umas férias connosco e deixarmos criar alguns laços. Relutante a um a primeiro momento, finalmente aceitou, e devo já adiantar que repudio o boato que já ouvi soprar por aí que isso tem alguma coisa que ver com um alegado rolinho de notas a passar de mão em mão. Nós somos pobres.
Bom! A questão é que conseguimos sacar-lhe uma entrevista exclusiva e é com muito gosto que, dessa forma, passamos a apresentar mais esta grande cacha (jorn.).
Badalo - Sr. Leonardo, dá-me licença?
Leonardo da Vinci - Olá! Esteja à vontade...
Badalo - (sentando-se) Posso fumar?
Leonardo - Bom, isso não é o mais dócil para os alvéolos pulmonares...
Badalo - Sim, eu...
Leonardo - Quer que lhe faça um desenho dum par de pulmões alcatroados? (agarra numa folha de esquisso)
Badalo - Não será necessário, obrigado... eu... fumo depois... diga-me...
Leonardo - Sim?
Badalo - Há uma coisa que o público fiel do meu blogue realmente deseja saber, independentemente de reconhecerem o génio de vossa excelência...
Leonardo - Sim?
Badalo - ...sim! Como vai isso de amores?
Leonardo - Perdão?
Badalo - E aquela Gioconda era quem, afinal?
Leonardo - Amores?
Badalo - Não é isso! Por que é que na verdade escrevia em reverso?
Leonardo - ...mas eu...
Badalo - Ok! Já percebi! A fazer caixinha, não é?! Tudo bem... Sabe que dizem por aí que gostava de agasalhar o palhaço?
Leonardo - (suspira) É tarde... preciso de dormir...
Badalo - Tudo bem. Também ainda tenho de ir ver as vistas. Só mais uma pergunta!
Leonardo - Sim?
Badalo - Obrigado!
Para quem não conhece, aqui fica este link precioso (é só clicar onde diz "Leonardo's Notebook"), a quem se aconselha o uso pleno das funcionalidades, designadamente a lupa e o "mirror").
plantado por Badalo @ 15:46 |
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Nota de Rodapé
| Citação: «A Razão apenas consegue gritar, até enrouquecer, as leis da honestidade. É raínha de quem os homens troçam e injuriam até que, cansada, se cala e confessa vencida.»(*)
in "Elogio da Loucura" - Erasmo de Roterdão
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(*) - O Erasmo devia ser um gajo porreiro mas escrevia sobre coisas complicadas de mais. O que será a honestidade?
plantado por Badalo @ 22:04 |
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Sem Comentários
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plantado por Badalo @ 22:18 |
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Census da Semana
| Parece de propósito mas não é: temos um retumbante sucesso das baboseiras (com especial destaque para quando em grande quantidade) e logo a seguir submetemos ao nosso público votante um dos census mais sérios até à data. Em dia de eleições para o Barlavento Europeu inauguramos a nova urna, sobre a personalidade, viva ou morta, que mais gostaria de conhecer-se ou de ter-se conhecido pessoalmente. Aproveite-se, pois, o anonimato do voto. Nós cá os recolheremos e tentaremos ilustrar o resultado daqui a uma semana. Até lá!
plantado por Badalo @ 22:23 |
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Ser Cubista é... Precisar de Usar Óculos
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- Outro Picasso, a esta hora?
- Não, é uma senhora a escrever.
- Ah.
plantado por Badalo @ 14:42 |
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Nota de Rodapé
| Citação:
«Uma das razões por que podemos ficar tão surpreendidos pelas nossas explosões emocionais é, portanto, o facto de elas datarem de uma altura das nossas vidas em que tudo era estranho e não tínhamos ainda palavras para compreender os acontecimentos.»(*)
in "Inteligência Emocional" - Daniel Goleman (1995)
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(*) - Outra das razões é, por tantas vezes, permanecermos sem as ditas palavras, apesar dos aperfeiçoamentos neocorticais.
plantado por Badalo @ 12:44 |
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In Memoriam
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plantado por Badalo @ 21:41 |
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Refrões Profundos - Traduções Espantosas
| Os leitores habituais desta página terão já notado que algumas das nossas rúbricas têm conhecido evoluções, quais Pokémons. Assim foi com a rúbrica Citação, a qual se transformou em Nota de Rodapé, e haverá decerto mais exemplos mas sinceramente não nos conseguimos lembrar de qualquer outro. Também para o caso não importa.
Desta vez trazemos uma bomba, que é como quem diz, algo de mais ousado: ao refrão profundo, e respectiva tradução espantosa, adicionamos a possibilidade de ouvir a música original. Não é magnífico?! Optámos por não incluir a totalidade da letra, e, por maioria de razão, apenas traduzimos e apresentamos o áudio respectivo. De salientar, ainda, que no final do trecho apresentado não resistimos a incluir os versos finais da canção, devidamente vertidos, por se tratar de uma das mais saborosas pérolas letrísticas de que temos memória. Infelizmente não lográmos encontrar qualquer imagem destas aves raras.
Boys Don't Cry - "I Wanna Be A Cowboy"
A viagem começa neste link especialmente construído para o efeito.
plantado por Badalo @ 07:31 |
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Tutorial da Vaca Louca
| Lembram-se de, mais abaixo, termos apresentado o Capitão Cuecas? Provavelmente por ter rastreado o nosso post resolveu fazer-nos uma visita durante o fim-de-semana; fizémos uma patuscada das antigas, trocámos umas piadas e partilhámos experiências de vida. Aproveitei para lembrar à minha mui querida Vaca Louca que talvez o Capitão Cuecas nos pudésse ensinar, de uma vez por todas, a coreografia recordista no caudal de pedidos que nos chegam diariamente por e-mail. Sim, é isso mesmo: em estreia mundial, temos o orgulho de apresentar o primeiro tutorial coreográfico bovino das... (permitam-me conservar o suspense até que se clique aqui)...
plantado por Badalo @ 12:40 |
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Census da Semana
| Se é certo que já por duas vezes tínhamos apresentado census mistos (com três opções para cada género) só esta semana se traçou uma imagem sobre como se divide o nosso público votante entre homens e mulheres, já que não parece razoável que um homem escolhesse uma actriz para interpretar o filme da sua vida (excepção feita, claro, ao despassarado do porquinho-da-índia), ou vice-versa. Foi desta forma que ficámos a saber que apenas um terço, aproximadamente, dos nossos votantes são cavalheiros, o que tem gerado um efeito estapafúrdio no campo de milho, no lado oeste da Quinta, que talvez um dia descreva.
Estatísticas e massarocas aparte, temos uma vencedora. Estrela em Chocolate, em A Insustentável Leveza do Ser, e em Azul (da trilogia de Kieslowsky), entre outros, demonstra versatilidade na arte dramática, tem uma carinha laroca e sabe falar francês. Capaz de transmitir irreverência, frescura, paixão, serenidade, mereceu, pois, a preferência do nosso público feminino.
Não queria deixar de dar também uma palavrinha a propósito das escolhas sobre os cavalheiros. A sobriedade de Eastwood levou a melhor sobre os alucinados Cage e Liotta, sendo que este último conseguiu a proeza de não arrecadar um único voto. Provavelmente porque Ray mete medo ao susto a qualquer um, com aquele ar de sociopata de grau de periculosidade semelhante ao alerta vermelho em central nuclear. Por tudo isso, para ele o nosso abraço.
plantado por Badalo @ 19:23 |
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A Nega
| Estava o dia a correr tão bem, as galinhas sossegadas, até, e nem caiu ninguém no poço, quando escorreguei na asneira de ir à caixa do correio. Gosto de ir buscar a correspondência, sinto-me bem quando reúno todos no loft do celeiro e aprecio os esgares enquanto esperam pelo momento em que distribuo as cartas. Mas desta vez a carta mais importante era para mim. Pois. Uma carta com timbre oficial. Vinda do Ministério, muito sóbria e em envelope franquiado. Pedi à minha mui querida Vaca Louca para abrir-ma. Leu-ma devagarinho, e percebi que a coisa tinha corrido mal quando deixou uma frase a meio, atirou a carta para uma fogueira que convenientemente ali crepitava e desafiou: "vamos brincar?".
Claro que mais tarde voltei ao local do crime, e, através de uma técnica muito sofisticada - por demais fastidiosa de explicar aqui, mas que envolve a manipulação de substâncias e preparados químicos muito delicados e perigosos - consegui recuperar das cinzas a missiva oficial, vinda do Ministério. Referia-se ao meu pedido de subvenção há tempos formulado para que pudesse prosseguir a minha investigação sobre a melhor forma de combater a ameaça alienígena, a qual tive oportunidade de explicar em A Teoria da Conspiração (5 de Maio, disponível no Sótão). Patati-patatá, a retoma ainda não chegou em força, é preciso apertar o cinto, solidarizam-se com o meu esforço científico, blá-blá-blá e mais blá para concluírem que não havia dotação orçamental para financiarem a instalação do meu centro de estudos num paraíso tropical (local adequado, como expliquei, devido à fauna e flora locais serem adversas ao misterioso e indetectável espargido atmosférico).
Creio ser escusado narrar detalhadamente o fluxo lacrimal que me escorre pela face. É o adeus ao projecto. O adeus à esperança de reagirmos contra este maléfico propósito de invasão extraterrestre. Pior do que isso, é o adeus ao escritório de sonho. Snif.
plantado por Badalo @ 23:02 |
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