Estava o dia a correr tão bem, as galinhas sossegadas, até, e nem caiu ninguém no poço, quando escorreguei na asneira de ir à caixa do correio. Gosto de ir buscar a correspondência, sinto-me bem quando reúno todos no loft do celeiro e aprecio os esgares enquanto esperam pelo momento em que distribuo as cartas. Mas desta vez a carta mais importante era para mim. Pois. Uma carta com timbre oficial. Vinda do Ministério, muito sóbria e em envelope franquiado. Pedi à minha mui querida Vaca Louca para abrir-ma. Leu-ma devagarinho, e percebi que a coisa tinha corrido mal quando deixou uma frase a meio, atirou a carta para uma fogueira que convenientemente ali crepitava e desafiou: "vamos brincar?".
Claro que mais tarde voltei ao local do crime, e, através de uma técnica muito sofisticada - por demais fastidiosa de explicar aqui, mas que envolve a manipulação de substâncias e preparados químicos muito delicados e perigosos - consegui recuperar das cinzas a missiva oficial, vinda do Ministério. Referia-se ao meu pedido de subvenção há tempos formulado para que pudesse prosseguir a minha investigação sobre a melhor forma de combater a ameaça alienígena, a qual tive oportunidade de explicar em A Teoria da Conspiração (5 de Maio, disponível no Sótão). Patati-patatá, a retoma ainda não chegou em força, é preciso apertar o cinto, solidarizam-se com o meu esforço científico, blá-blá-blá e mais blá para concluírem que não havia dotação orçamental para financiarem a instalação do meu centro de estudos num paraíso tropical (local adequado, como expliquei, devido à fauna e flora locais serem adversas ao misterioso e indetectável espargido atmosférico).
Creio ser escusado narrar detalhadamente o fluxo lacrimal que me escorre pela face. É o adeus ao projecto. O adeus à esperança de reagirmos contra este maléfico propósito de invasão extraterrestre. Pior do que isso, é o adeus ao escritório de sonho. Snif.