«Excelentíssimos Pombura e Pendureza,
Dirijo-me a V. Excelências em desespero de causa. Talvez por ter já tentado de tudo para resolver a minha angústia, sem sucesso. Cheguei ao cúmulo de ler de enfiada o Memorial do Convento e a Manhã Submersa no intuito de libertar a minha mente desta dúvida que me assola. Enquanto seguidor atento das práticas terapêuticas ministradas por V. Excelências encontrei finalmente coragem para me dirigir a Vós em busca de uma palavra de orientação.
Sou um rapaz que escapa aos cânones da beleza aceite: o acne pulula pelo meu rosto como o trigo doira na seara; as minhas carnes há muito que passaram o limite do simples insulto e pareço ser a incarnação do grotesco, a avaliar pelas reacções que provocam; o meu cabelo é tão oleoso que o uso normalmente como lubrificante no motor do meu carro. Tenho, por isso, tendência para sair somente à noite, frequentando apenas lojas de conveniência, onde me abasteço, regressando o mais rapidamente possível à reserva securizante da minha casa.
Naturalmente que tudo isto torna fácil de intuir que disponho de equipamento informático e que através dele comunico com o mundo, por ser a única forma de me separar deste inferno de gordura que me define por fora. E sim, comecei por ter um blog. Foi nele que me vi e revi vezes sem fim, me imaginei um desses rapazes dos anúncios de televisão, por vezes a saltitar em campos verdes em flor, como no anúncio da Molico (leite em pó) embora nesse fosse uma rapariga que saltitava, mas isso também não interessa. Há já muito tempo que blogo. Já não sei fazer mais nada. Blogo, blogo, e depois torno a blogar. Tenho cerca de trinta e sete blogs activos, todos eles distintos e independentes, e recentemente tenho andado a considerar a loucura de inaugurar o trigésimo oitavo. Mas tenho um problema.
(...)»
O estimado leitor desculpar-nos-á mas fomos forçados a publicar apenas o prólogo da sua missiva, que nos mereceu o nosso melhor cuidado. Provavelmente o servidor não teria capacidade para receber a totalidade da maravilhosa epístola que nos dirige. E, se nos cumpre oferecer qualquer conselho, estamos em crer que o que tem a fazer é orelhas moucas a essas vozes que ostracizam esse grupo de palavras acabadas em "eiro". Motoqueiro, foleiro, blogueiro, e até aqueles senhores das panelas (como dizem) não são todos farinha do mesmo saco. Liberte-se da sua culpa e continue a fazer o que sempre fez, com a certeza de que chegará o dia em que todas as pessoas o aceitarão tal e qual como é.
plantado por Badalo @ 21:24 |