Em primeiro lugar há que referir que a sessão semanal de sexta-feira vai recambiada para o celeiro, devido ao desgaste sofrido na adega durante a pretérita reunião. Um dos pontos em agenda foi a apresentação de uma pequena peça em jeito de tragédia grega. E foi assim:
Interior. Lusco-fusco. Homens com longas barbas brancas e vestes solenes e largas. Alguém bate à porta.
Fulanón (levantando-se e dirigindo-se à porta) - Quem vem lá?
Voz do exterior - Abri, que está frio. Sou o vosso compadre, Beltranis.
Fulanón - É como dizeis, está um frio de rachar aí fora. Não abro esta porta por dá cá aquela palha. Provai-me que sois Beltranis e não um mero impostor e abri-la-ei, deixando-vos entrar e o calor sair.
Voz do exterior - Emparvoasteis? Sabeis porventura quantos graus negativos estão aqui? Conheceis mais alguém maluco o suficiente para vir enregelar as barbas só para vos vir aturar?
Fulanón - Assim vos trairdes, ignóbil impostor! Pois que quem essa porta atravesse para este aconchego procurará essencialmente atacar as pipas de belo tinto e os presuntos já defumados...
Voz do exterior - Esta peripécia já vai longa! Abri imediatamente esta porta ou serei forçado a denunciar os escravos que não declarardes às finanças!
Fulanón (abrindo apressadamente a porta) - Entrai sem mais delongas, Beltranis, sentai-vos e bebei uma taça de tinto, para aquecer...
Beltranis (bebendo) - Bom! Dizei-me: Sicranedes já chegou?
Silêncio. Tensão. Olhares entrecruzam-se. Fulanón tosse.
Beltranis - Acaso não me terei feito ouvir? Perguntei se Sicranedes já chegou. Temos assuntos importantes a tratar.
Fulanón - Sim, estou a par. Ides abrir uma cadeia de restaurantes especializados em Arroz de Pathos... (emborca a sua taça de tinto e serve-a de novo)
Beltranis (com ar ausente) - Seremos ainda mais ricos; poderemos ter ainda mais escravos, e, dessa forma, mais tempo livre para nos dedicarmos à nobre ciência da Filosofia. Alimentar a alma e carregar o fígado.
Fulanón - Sim, é excitante! Sempre optasteis por pôr só eunucos a servir à mesa?
Beltranis (levantando-se e abrindo uma garrafa de vinho do bom) - Certamente! São mais estúpidos e falam pouco, o que é o ideal para a clientela. Onde se terá metido Sicranedes?
Abrem-se garrafas de Chateau Lafitte com várias décadas. Sicranedes demora.
Fulanón - (hic) Barece-me que baderam à borda, ó... ó... Beltranis (desata a rir)
Beltranis - Será aquele malandro? Finalmente?
Fulanón (gritando) - Sois vós, ó Sicranedes? (hic)
Voz do exterior - Abri em nome de Dionísio, ó alarves. Trago notícias graves!
Fulanón - Ides lá, combadre Beltranis? (hic)
Beltranis - Estais malugo? (hic) Eu nem c'uma grua me lefanto dagui...
Fulanón - Voltai amanhã, Sicranedes, nunca antes (hic) das quatro da darde...
Voz do exterior - E o Arroz de Pathos?
Fulanón e Beltranis - Deixai izo junto à borta. Amanhã marcha.
Cai o pano
plantado por Badalo @ 16:34 |